23 de jan. de 2013

Quando o Universo descobriu a Colombo!


Miss Universo 1958 - 17 a 27 de julho, em Long Beach -


Adalgisa chegou em Long Beach - Califórnia (EUA), acompanhada do namorado Jackson Flores, empresário e alto funcionário da embaixada americana que residia em Nova York. Este fato foi comentado de forma pejorativa, mas não abalou de princípio seu favoritismo ao título.

Ela foi munida de todos os atributos e acessórios que lhe garantissem condições de conquistar o inédito título ao Brasil. Levou aos E.U.A. seis (6) malas que acomodavam três (3) vestidos de baile (um deles autêntico Dior); vinte (20) vestidos passeio; dois (2) trajes típicos de baiana confeccionados por Gisela Machado (mulher de Carlos Machado,conhecido no Rio de Janeiro como o Rei da Noite) e dois (2) discursos em inglês: um para o prefeito de Long Beach e outro para o júri caso ficasse entre as finalistas.


Aprimorou seu inglês e mostrou isso ao ser entrevistada, arrasou. Até hoje é considerada a melhor atuação de uma Miss Brasil em certames internacionais. No seu discurso disse algo como: Colombo descobriu a América e a América descobriu a Colombo. Foi muito engraçado.



Deslumbrando a platéia presente no concurso de Miss Universo. “Ela era o perfil da mulher de 58, mas não o suficiente. Pela terceira vez, em cinco anos, o Brasil ficaria apenas com a segunda colocação (vice-reina)”.


Acredito que em se tratando de 1958, a organização e os jurados não estavam preparados para tanta auto-suficiência. O júri formado por sete (7) homens e duas (2) mulheres, consumiram 27 cédulas (3 para cada um) e cada um podia atribuir 15 pontos a cada entrada da candidata, totalizando 45 pontos por jurado. A vencedora obteve 405 e a segunda colocada, 404 – diferença de um ponto. No juri: Alberto Vargas; Earl Wilson; Jacob Gaudaur; James H. Noguer; Ma Ma Loa; Miyoko Yanagida; Raul Ferrada; Roger Zeiler e Vincent Trotta.

O concurso foi vencido por Luz Marina Zuluaga Zulouaga, uma colombiana de 1,62m de altura, 90cm de busto, 60cm de cintura e 90cm de quadril.


Informações chegaram ao Brasil dando conta que Adalgisa teria empatado com a Miss Colômbia. Vincent Trotta, Diretor de Arte da Paramount, foi responsável pelo voto Minerva e disse que optou pela colombiana pelo fato da Adalgisa estar apaixonada, o que caracterizava que o título para ela estava em segundo plano. Os jornais assim brincavam: Miss Universo Colombia, vice-miss, Colombo...


Na programação do Miss Universo 1958 aconteceu uma visita por Hollywood. Um dos atores que mais chamou a atenção das candidatas perguntou a Adalgisa se ela não iria lhe pedir um autógrafo. Ela perguntou quem ele era: - Eu sou Hugh O'Brien, o Wyat Earp. Todo mundo me conhece.
E com o jeito ”Adalgisa” de ser: “Nunca ouvi falar. Mas escreve aqui, mostrando ao rapaz um papel.” - Adalgisa pegou o autografo, picou e jogou nele. Ao ser indagada sobre o ocorrido disse: “Onde já se viu homem tão convencido!”

Adalgisa deu tempo aos compromissos como Miss e foi fazer carreira como manequim em Nova York. Desfilou para muitos estilistas famosos, entre eles: Oscar de La Renta, Ann Klein e Halston.


Renunciou durante o reinado para se casar com Jackson Flores, o que aconteceu em maio de 1959. Não tendo que provar nada a ninguém não foi destituída e é reconhecida como Miss Brasil 1958, mas não compareceu ao Miss Brasil 1959 para passar o título a sua sucessora.
No Estados Unidos, após ter seu primeiro filho, continuou com a carreira de modelo. Seu casamento não durou muito.


Morou no Rio de Janeiro, casada com o empresário Flavio Teruszkin, onde recebia constante carinho de seus três filhos (Jackson, Rodrigo e Rafaela). O que lhe encanta no momento é curtir seu neto Edoardo, filho de Rafaela.


Foi a Miss Brasil que mais estampou as capas das revistas Manchete e O Cruzeiro. Adalgisa sempre quis ser Miss, mas confessa que pouco aproveitou das benesses do título que a consagrou como uma das mais belas do país. Diz não ter sido uma Miss simpática, mas ninguém lhe tira os título de Miss Decidida..., Miss Corajosa..., Miss Profissional..., Miss Atitude e Miss Adalgisa...

O mito é eternizado e a frase... também: Colombo descobriu a América..., a América descobriu a Colombo... 

Adalgisa Colombo nos deixou no dia 18 de janeiro de 2013... Data em que comemorei 52 anos... 

Fica aqui meu particular agradecimento pelas palavras da última vez que nos falamos por telefone: Wall você é especial por nos fazer acreditar que também somos especiais! 

Saudades... - Wall Barrionuevo

Quando a América descobriu Colombo - parte 04

Concurso Miss Brasil - Rio 1958 

Rio de Janeiro, 21 de junho, Maracanãzinho, palco da eleição da nova Miss Brasil. Estima-se que 25 mil pessoas estavam no ginásio e outras milhares acompanhando pelo rádio e TV. Na passarela 23 misses concorriam ao título. 

A gigantesca passarela primeiramente foi conquistada passo a passo pelas misses que desfilavam no “templo” que marcou época na eleição de Miss Brasil, principalmente os promovidos pelos Diários Associados. 

E lá estava Adalgisa novamente vencedora, merecedora do tradicional maiô dourado, oferecido como prêmio pela Catalina, patrocinadora oficial do concurso durante anos. 


Adalgisa Colombo foi a primeira Carioca a ganhar a título nacional. A favorita Sonia Maria Campos (Pernambuco) ficou em segundo lugar. As demais colocações: Ana Maria Felício de Paiva (Paraná) – Miss Simpatia; Denise Guimarães Prado (Minas Gerais) – terceiro lugar; Carmen Erhardt (Santa Catarina) – quarto lugar e Madalena Fagotti (São Paulo) – quinto lugar. 


A Miss Brasil 1958, dotada de beleza, glamour, inteligência, talento e sobre tudo... mulher, novamente chorou. 


Princípios de vaias surgiram o que era talentosamente contornados pelo apresentador. Em seu discurso como vencedora, como não poderia ser diferente, respondeu a altura dirigindo palavras aos que ainda insistiam em vaia-la: "Com a educação cada um demonstra o que aprendeu em casa. Quem tem aplaude, quem não tem, vaia...”


Quando a América descobriu Colombo - parte 03

Concurso Miss Estado do Rio de Janeiro (na época Miss Distrito Federal)

Já com 18 anos e 1,69m de altura, 56 kg, medindo 62cm de cintura, 90cm de busto, 91cm de quadril, 56cm de coxa e 21cm de tornozelo representou o Clube Botafogo no concurso Miss Distrito Federal (hoje RJ). O concurso foi realizado em um sábado, dia 14 de junho de 1958. 

Entrou no concurso envolto a polemicas. Uma famosa modelo, de nome Geórgia Quental, que trabalhava com ela na Casa Canadá, também tinha interesse de participar do concurso. A proprietária da loja, Dona Mena Fiala, decidiu apoiar Adalgisa pelo fato de ter ciência dos quatro anos em que se preparou. 

Não agradou a maioria das 25 candidatas inscritas no concurso o fato de ter uma modelo profissional competindo com elas. Outro fato foi às poucas, mas marcantes mudanças que Adalgisa fez no maiô do desfile: descosturou, ajustou, encurtou e cavou nas costas. Sem deixar de lado o inseparável Óleo Johnson, que deixava sua pela muito mias iluminada. 

Não entrou como favorita, mas a experiência fez visível diferença. Sob ensurdecedoras vais, salgadinhos fritos e gelo lançado rumo a vencedora, foi coroada em meio a lágrimas – Miss Distrito Federal 1958. 


As fotos da época mostram o semblante arrasado da Miss eleita. O jornal a Última Hora estampou a manchete "Bagunçaram o coreto". Em um jornal deu destaque para a mãe da candidata Ivone Richter (Miss Riachuelo), que subiu ao palco para tentar agredir Adalgisa, descontente com a segunda colocação da filha.

 
E dando continuidade ao barraco, nos camarins a irmã da Miss Vasco da Gama fez picadinho do belíssimo vestido de tule usado por Adalgisa na disputa em traje de gala. 

Quando tudo acabou a Miss eleita correu para o camarim e foi ali que viu sua mãe encolhida num canto após longa espera. Abraçadas ouviu da mãe: “Não chore filha. A vaia não era para você” – e dizem que não foi mesmo e sim, por ser representantes de clubes, Botafogo tinha muito poucos sócios e no local centenas de pessoas de outros clubes Carioca. 

Adalgisa não era ingênua e sabia muito bem o conteúdo de sua estratégia para chegar ao seu primeiro título que poderia levá-la ao Miss Universo. Ela, acima de tudo uma “mulher”, ficou arrasada com as manifestações após sua vitória, mas não destruída.


Quando a América descobriu Colombo - parte 02

Adalgisa Colombo nasceu no dia 11 de janeiro de 1940, no Rio de Janeiro. Filha de Edoardo Colomb (imigrante italiano) e de D. Percília Corrêa, carioca de laranjeiras. Desde muito jovem a esguia Adalgisa já mostrava um temperamento picante, dando origem a uma personalidade forte e marcante. Comunicativa, impulsiva e como toda jovem daquela época, se deliciava com os retratos de artistas nas revistas. 

Tinha 14 anos quando surgiu o “furação” Martha Rocha decidiu que queria ser Miss Brasil. Nos três anos seguintes lia tudo sobre concursos. Suas inspirações: Emília Correia Lima, Maria José Cardoso e Terezinha Morango. 

Aos 15 anos foi pessoalmente a uma grande loja do Rio em busca da oportunidade de desfilar, mas por ser muito nova não a contrataram. Foi indicada para desfilar para a Mesbla e lá escondeu o fasto de nunca ter andado de salto alto. Redimiu-se tendo que treinar exaustivamente e valeu a pena. Entre um e outro contato a chamaram para um desfile dos maiôs Catalina, realizado no Hotel Quitandinha, em Petrópolis, onde a empresa contava a história dos maiôs em um desfile de épocas. 

Nesse dia, no elevador, encontrou Marta Rocha que ali passaria a faixa de Miss Brasil a sua sucessora. Emocionada reafirmou se desejo: é isso mesmo que eu quero, ser Miss Brasil

Para adquirir experiência se candidatou no concurso Miss TV, ganhou o título mas não ficou com ele. O Juiz de Menores anulou o concurso pelo fato da vencedora só ter 16 anos, sua tia foi quem denunciou o fato. Ficou sem o título, mas usufruiu as benesses do prêmio que a levou à Europa

Para perder o medo dos microfones foi trabalhar em uma rádio em um programa só para mulheres. Seus colegas lhe apelidaram de Dagô - junção da expressão “dá gosto”. Como modelo, inclusive da Casa Canadá, tinha também um jeitinho carinhoso de ser chamada - Gisah


O programa de rádio começava às 8 horas da manhã. Teve oportunidade de entrevistar dezenas de pessoas famosas. Certa feita entrevistou Terezinha Morango, Miss Brasil 1957 e vice-miss Universo, “não podia deixar de perguntar sobre as respostas em inglês dadas no concurso internacional sem que ela soubesse o idioma”; contou Adalgisa que ficou surpresa com a resposta da então Miss Brasil: Papagaio não repete? 

Fez pontas em filmes na Atlântida. Freqüentou curso do Teatro Duse e não demorou para interpretar peças na Rádio Ministério da Educação. (Foto com Cauby Peixoto)


Teve uma pessoa muito especial na caminhada rumo ao título nacional: Oscar Santa Maria, para ela um dos maiores gênio no assunto “concurso de beleza”. Foi ele que a orientou durante sua preparação indicando como se alimentar, se portar e até como se vestir. Alertou sobre a importância do inglês, e ela logo deu início aos estudos. Comeu muita cenoura para que a pele ficasse sempre bonita.

 
Adalgisa andava de forma elegante e seu rosto mudava de expressão a cada instante frente a uma câmera fotográfica.

Quando a América descobriu Colombo - parte 01

A história dos concursos é preservada graças a “magia” que norteia o universo da beleza. Paralelo aos concursos está o público que tem todo o poder de transformar a vencedora ou uma mera concorrente, em mito.

Boa parte do que se lê em registros antigos é preciosa fonte de informação e nos remete ao ocorrido. Por diversas vezes algo noticiado (escrito ou falado) é aceito como “fato acontecido”. Dou como exemplo as tais duas polegadas que supostamente fez com que Martha Rocha não conquistasse o título de Miss Universo em 1954

Perguntei a Martha sobre isso: “Eu mesmo não ouvi e nunca foi provado que isso realmente tenha acontecido. O que soube foi que um jornalista brasileiro na necessidade de arranjar uma desculpa para acalmar os ânimos dos brasileiros que acreditavam na minha conquista teceu esse comentário”, respondeu a diva. 

Será que devo acreditar em tudo o que se diz e leio desse infindável e complexo universo “Miss”? 

Não quero entrar na celeuma do assunto, mas vou contribuir para que se tenha mais um texto sobre concursos. Caso fuja da realidade assumo que estou contaminado com informações que preciso repassar e assim fortalecer ainda mais esse "universo" recheado do que se supões ser imaginário. 

Com o objetivo de perpetuar minhas “paixões” reverencio uma Miss que também conquistou o direito de ser reconhecida como mito. Uma Miss que foi além de seu tempo, incomodando os condicionados em viver somente o “aqui e agora”. Uma jovem que não mediu esforços rumo ao aprendizado incansável que viria transforma-la em uma Miss com qualidade ímpar, de gênio forte e incomparável. 

Sua determinação fascina com inigualável marca, pra lá de registrada. Recebeu educação no Liceu Francês de Laranjeiras, mas foi "convidada" a conhecer outras instituições de ensino. 

Aqui cito fatos que deixam a história da diva ainda mais digna desta singela homenagem. São acontecimentos que certamente contribuíram para a formação de um ícone chamado Adalgisa Colombo.


Recorro também a memória, que ainda bem fresca me faz recordar os bons papos com os amigos Fernando Bandeira (PE), o médico Carlos Eliel Torres (SC), Francisco Carlos Dias de Araújo e Evandro Silva. Todos confessos admiradores da personagem central dessa história.